Decisão histórica do STF põe fim ao Tribunal de Inquisição de Curitiba e resgata imagem do Judiciário
Anos depois da ópera bufa apoiada por “bandidos de bem” e “pais de família patriotas”, a Lata de Lixo da História começa a recolher seus novos inquilinos
Primeiro de novembro de 2018. Eu fazia 48 anos e na data ocupava-me da única coisa que sei fazer: escrever. Isolado e criticado por toda sorte de “familiares”, “amigos”, “conhecidos” e “colegas de trabalho”, este escriba que já nasceu teimoso e nunca temeu rastros de onça nem rugidos de covardes, se posicionava contra a desfaçatez da escolha de Sérgio Moro , o paladino dos cretinos moralistas, para o Ministério da Justiça. O juiz bandido, associado aos seus parceiros do crime da “República de Curitiba” (mas pode me chamar de Tribunal de Inquisição) – entre eles, outro sebastianista cara-de-pau, Deltan Dalagnoll – havia montado uma farsa de proporções dantescas que arrancou Lula da disputa presidencial e abriu caminho para a vitória de um tal Jair Messias Bolsonaro, também conhecido nos atuais dias de morte e desespero como “empilhador de cadáveres”. Dizia eu, naquela infame oportunidade, abre aspas: “não é lindo isso? Sérgio Moro, o Paladino da Moralidade e “herói” nacional da Lava-Jato, não esperou sequer o defunto esfriar. Na mesma semana em que o Capitão venceu as eleições, Moro, o “imparcial”, voou para o Rio para se encontrar com seu, desde já, novo chefe. O mesmo que há poucos dias afirmou que o ex-presidente condenado por seu agora ministro deve “apodrecer” na cadeia. Nessa vida de aparências avalizada por 57 milhões de brasileiros, as coisas costumam se encaixar com uma velocidade impressionante. Doutor Moro, o ministro, tem uma forma curiosa de praticar o distanciamento. Nas semanas decisivas do pleito que ungiu seu chefe ao cargo máximo da nação, achou por bem – só por bem, é claro – abrir o sigilo de parte da delação de Antonio Pallocci, o ex-ministro da Fazenda de Lula que está vomitando cobras e lagartos em busca da liberdade. É claro que Doutor Moro, o ministro, fez isso sem o menor interesse. Doutor Moro é , sobretudo, um cabra rápido no gatilho. Mandou prender Lula quarenta minutos depois da condenação do ex-presidente em segunda instância e aceitou o cargo de ministro do Capitão quatro dias depois da vitória do “Mito”. Coisa pouca. Nada que possa assustar quem, de forma diligente, decidiu, aos milhões, deixar de pensar”. Fecha aspas e corta para o presente. Hoje, 24 de março de 2021. Dois anos e quatro meses depois daquela ópera-bufa apoiada por “bandidos de bem” e “pais de família patriotas”, a Lata de Lixo da História começa a recolher seus novos inquilinos. Em decisão histórica, o Supremo Tribunal Federal reconheceu ontem que Moro foi parcial como julgador do ex-presidente Lula na ação vergonhosa e fabricada do “Caso do Tríplex” do Guarujá. A sentença do juiz bandido foi completamente anulada. Por conta da injustiça, agora reconhecida, o ex-presidente ficou 580 dias presos sem ter culpa. Uma excrecência que envergonhou o estado democrático de direito mas que, na época foi apoiada sem a menor cerimônia por canalhas filisteus que facilmente encontramos no almoço de domingo com a família, nas baias dos escritórios de trabalho , em reuniões corporativas cínicas, em rodinhas de churrasco e, é claro, na terra arrasada das redes sociais e seus imbecis orgulhosos. Ficar do lado certo da história, desde o primeiro momento, é um exercício de solidão que pratico com prazer. Pouco me importa o que vão achar ou deixar de achar irmãos, parentes, primos, amigos, contratantes e toda sorte de cafajestes que, desonestos intelectuais que são, aplaudiram uma perseguição judicial imunda, na mais flagrante prática de “Lawfare” (a mesma, diga-se de passagem, que vem ocorrendo de forma explícita no cenário político de minha terra natal e que venho denunciando a plenos pulmões) para arrancar da disputa eleitoral um candidato que estava com a vitória nas mãos. Como dito pelo ministro Gilmar Mendes em uma das melhores sustentações orais da história da Suprema Corte, “não se combate o crime cometendo crimes”, como fizeram Moro, Dalagnoll e companhia limitada. Em países civilizados, o judiciário não pode ser uma polícia política, destinada a tramar contra aqueles que não fazem parte de seu espectro ideológico. O Brasil é um estado democrático de direito e não um regime totalitário, uma Rússia de Stalin ou uma Romênia de Ceausescu, como desejam ardentemente os fanáticos do bolsonarismo, que clamam – pasme – pela “volta dos militares” e pelo “fechamento do Supremo”. São reacionários estúpidos, canalhas devotos que mal sabem enumerar quem foram os presidentes militares do Brasil e tão pouco conhecem a história da Ditadura no país. Talvez, se encontrassem tempo entre uma fake news e outra, poderiam quem sabe, ler os cinco volumes da monumental obra de Elio Gaspari sobre a Ditadura: “A Ditadura Envergonhada”, “A Ditadura Escancarada”, “A Ditadura Derrotada”, “A Ditadura Encurrulada”, “A Ditadura Acabada”. Como os idiotas de Nelson Rodrigues, os toscos cretinos do bolsonarismo perderam a modéstia e inundaram as redes sociais com suas “convicções” de quartel. Se vale o conselho, talvez devessem prestar mais atenção à enorme circunferência e profundidade da Lata de Lixo da História . Nela, cabem com folga juízes bandidos, bandidos “de bem” , pais de família “patriotas” e ainda há espaço folgado para aquele irmão estúpido que adora falar merda como se estivesse recitando Os Lusíadas, de Camões.

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