CRÔNICAS DE ONDE EU VIM: NOVAS ELEIÇÕES EM GUAÍRA SERIAM UMA VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL NUMA CIDADE QUE CONTA SEUS MORTOS
“Se José Eduardo ficar pelo caminho, grupo que apoia o prefeito reeleito vai desmoronar e nova vitória torna-se muito difícil”, alerta um dos fundadores da “União e Progresso”
Bia, JC Soares e Armanis da vida contam com a desarticulação provocada pela ausência de José Eduardo para jogar a cidade novamente na loucura de uma eleição no meio de uma pandemia que está matando guairenses logo depois de intubá-los
“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”, dizia o sociólogo, historiador e revolucionário alemão Karl Marx. Nesse sentido, pode-se dizer, aperfeiçoando o que afirmou o autor de “O Capital”, que novas eleições em Guaíra seriam a repetição da história de 2020 como tragédia e também como farsa. Tragédia porque iria impor à população que conta seus mortos levados pela Covid-19 um novo e desgastante processo eleitoral. Farsa porque estaria dando, com verniz de legalidade, uma segunda “oportunidade” para que golpistas que não conseguiram vencer nas urnas tentassem derrotar um projeto de governo avalizado por 60% dos eleitores. Como se sabe que o pão sempre cai com a parte da manteiga virada para o chão, tragédia pouca é bobagem. Na opinião de um dos fundadores da antiga e original coligação “União e Progresso”, que em 2000 uniu pugliesistas e orlandistas numa coalizão até então inédita; “se José Eduardo ficar pelo caminho, por decisão da justiça ou por desistência pessoal, o grupo que o apoia vai desmoronar e uma nova vitória torna-se mais difícil”. A coluna conversou ontem (domingo) com um dos próceres da União e Progresso e uma das mais experientes figuras da política local, filho de família que já comandou o município e protagonista de experiências marcantes no executivo , no legislativo e nos palanques. Para ele, hoje existe muito pouco do que já foi a “União Progresso”, criada no início da década passada para evitar que o desastre armanista pudesse se perpetuar e comprometer o futuro da cidade. Muitos dos “entendidos” que hoje desfilam pelas redes sociais vomitando asneiras sobre a política local ainda usavam fraldas quando, depois de perderem as eleições em 1996 para a “zebra” Cláudio Armani, os grupos antagônicos que se formavam em torno de José Pugliesi, o “Minininho”; e Orlando Garcia Junqueira, uniram-se pela primeira vez, enterrando uma guerra selvagem que nasceu lá atrás, uma geração antes, nos duelos épicos entre “santanistas” e “chubacistas”, dos antigos aliados que se tornaram inimigos fidagais Aloízio Lelis Santana e Waldemar Chubaci. A “junção” pragmática foi resultado do duro aprendizado das urnas. Como se sabe, a disputa intestina entre Minininho (pugliesistas) e Jorge Domingos Talarico (orlandistas) em 1996 acabou por provocar a tempestade perfeita que elegeu um outsider – Claudio Armani – como prefeito. Um “cumulonimbus” que não poderia se repetir. De lá para cá, bem ou mal, a “União Progresso” manteve-se com outros formatos mas o mesmo objetivo: impedir o avanço das esquerdas na cidade. Nem sempre deu certo. Entre 2005 e 2008 e 2012 e 2016 Guaíra foi governada por Sérgio de Mello, do Partido dos Trabalhadores. Já cambaleante em sua formação original e depois das mortes de Orlando e Minininho, a “União e Progresso” perdeu o nome mas sobreviveu na forma e nos fins nas eleições de 16, quando José Eduardo ganhou pela primeira vez trazendo consigo novos passageiros da coalizão. A saber, os “cristãos novos” do Cidadania. O resto até as garças do Lago Maracá, sempre elas, já sabem. Acometidos de vertigens de baixa altitude, os políticos do Cidadania, apesar de todos os seus arroubos de “autopromoção” nunca tiveram estatura para desafiar a liderança original e única do tucano José Eduardo. “O pessoal do Cidadania sequer existia politicamente na época do acordo histórico que uniu pugliesistas e orlandistas”, lembra o experiente interlocutor desta coluna. Daí sua preocupação com o que vem por aí. “Se o José Eduardo sair do jogo, acabou”, afirma ele, com convicção. Em outros palavras, só José Eduardo teria força para conter as vertigens de baixa altitude do Frankenstein em que se transformou, ao longo dos anos, das mortes de próceres, e das conveniências, a coligação União e Progresso. Um exemplo clássico da ambição sem noção do Cidadania foi a prontidão de um seus nomes, o secretário de Saúde Jorginho Uatabani, amigo pessoal de José Eduardo; em lançar o balão de ensaio em torno de sua “candidatura’ para 2024. Isso, na mesma época em que um dos nomes mais importantes do partido, o vice-prefeito reeleito, Renato Moreira; foi acusado pelo Ministério Público Estadual de chefiar um esquema de desvio de recursos públicos dentro do governo guairense. Mesmo diante de todas as evidências de arbitrariedades e provas frágeis do MP, convenhamos, não era hora do Cidadania ficar “se achando”. Tem, pois, muita razão, o interlocutor da coluna ao afirmar que só José Eduardo, continuando como prefeito reeleito, teria condições de segurar “a fome dessa gente”. Sem José Eduardo, os situacionistas vão se jogar em uma guerra fratricida pelo poder. Edvaldo Morais, “tucano da velha guarda” de um lado e o Cidadania e seus “novos” que já parecem velhos, de outro. É com essa desarticulação que contam Bia, JC Soares e Armanis da vida para jogar a cidade novamente na loucura de uma nova eleição no meio de uma pandemia que está matando guairenses logo depois de intubá-los.
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