CRÔNICAS DE ONDE EU VIM: VÍTIMA DE “LAWFARE”, JOSÉ EDUARDO BUSCOU INSPIRAÇÃO EM MÁRIO DE ANDRADE PARA RESSURGIR DIFERENTE E “TERRIVELMENTE” FELIZ
Prefeito reeleito não quer mais ficar engessado aos rituais do poder e planeja leveza para o segundo mandato. “Minha alma está em brisa e quero que ela continue assim”, afirma o filho de seu Adnaer e Dona Edna
Veja abaixo trechos exclusivos de conversa mantida com esta coluna e conheça um José Eduardo que você jamais experimentou
“Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo que nada será alcançado”. O trecho que você acaba de ler é parte do poema “Minha Alma Está Em Brisa”, de Mário de Andrade. Romancista e historiador da arte, Andrade fundou a poesia brasileira moderna com a publicação de sua Pauliceia Desvairada, coleção de poemas de 1922, mesmo ano da histórica e disruptiva Semana de Arte Moderna de São Paulo. Pois é justamente a poesia de Andrade que está guiando o prefeito de Guaíra (SP) – terra natal deste jornalista teimoso - José Eduardo Coscrato Lelis , em seu ressurgimento público depois de meses de silêncio enquanto aguarda decisão favorável da justiça para retomar seus direitos políticos após entrar para a história como o primeiro chefe do executivo reeleito nos quase cem anos do município. Em longa conversa que manteve com esta coluna por videoconferência na noite da última segunda-feira, 15 de março; José Eduardo abriu sua alma para dizer que ela está em brisa. Com fisionomia descansada e usando uma t-shirt branca, o filho de Seu Adnaer e Dona Edna , que falava a partir da área de lazer de sua residência; sorria muito e não lembrava nem um pouco o José Eduardo tenso mas calculadamente contido dos estertores de 2020 quando, às vésperas de sua posse, via-se sobre o mais severo e inescrupuloso bombardeio do “Lawfare” que seus adversários tentavam impor na tentativa desesperada de mudar o curso da história. Para quem não sabe, formada do inglês law, “direito”; e warfare, “conflito armado”, a expressão “Lawfare” foi cunhada nos anos 70 para definir a forma de guerra em que o Direito é usado como arma. O “Lawfare” é o emprego desavergonhado de manobras jurídico-legais com fins políticos. Tanto a inacreditável denúncia de que teria sido “favorecido” pela liberdade de imprensa quanto a infame “Operação do Gaeco”, deflagrada em ritmo de fanfarra no início de dezembro com viaturas, fuzis e sirenes; são exemplos explícitos do “Lawfare” imposto a José Eduardo. Digam o que quiserem, o movimento sujo envolveu todos os seus três adversários que foram esmagados nas urnas. A então vereadora Bia Junqueira fabricou as denúncias com auxílio de seus advogados e, rigorosamente oportunistas, José Carlos Soares e os Armani, embarcaram na onda. O resto é conversa mole de cafajeste. Depois de ser reeleito com 60% dos votos e ainda assim, permanecer sob o ataque dos golpes baixos de opositores inconformados com a derrota, algo parece ter se quebrado na forma como José Eduardo enxerga a política e a vida pública. Depois de ver amigos presos em flagrante excesso de autoridade do Ministério Público, a mesma instituição cujos representantes federais envolveram-se na farsa dantesca da “República de Curitiba”; o prefeito reeleito não está mais disposto a hipotecar a saúde mental sua e da própria família ao jogo sujo e implacável da política. É das experiências traumáticas e disruptivas de novembro e dezembro do ano passado que surge então o José Eduardo “Andradiano”, inspirado, guiado e “fechado” com Mário de Andrade. Nesse sentido, José Eduardo destacou, durante nossa conversa, alguns trechos de “Minha Alma Está em Brisa”. A certa altura, disse-me, recitando Andrade: “...quero viver ao lado de pessoas humanas, muito humanas. Que sabem rir dos seus erros. Que não ficam inchadas com seus triunfos”. E prosseguiu, de forma impressionante, com Mário de Andrade na ponta da língua: “...que não se consideram eleitos antes do tempo. Que não ficam longe de suas responsabilidades. Que defendem a dignidade humana. E querem andar do lado da verdade e da honestidade”. Lambendo os 55 anos e depois de vencer , ainda jovem, momentos financeiros difíceis da família , quando ainda estava na casa dos vinte e poucos e mais tarde, na meia idade, ter-se curado de um câncer que tratou com discrição; José Eduardo disse-me ter plena consciência que, mais uma vez parafraseando Andrade, “tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que eu vivi até agora”. E prosseguiu, para meu saboroso espanto, na declamação do poema de Mário de Andrade: “não tenho mais tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram. Meu tempo é muito curto para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa...sem muitos doces no pacote”. E finalizou, ainda replicando, ipsis litteris, Mário de Andrade: “quero cercar-me de pessoas que sabem tocar os corações das pessoas...pessoas a quem os golpes da vida, ensinaram a crescer com toques suaves na alma. Estou com pressa para viver com a intensidade que só a maturidade pode dar”. O que se vê, o que se percebe e o que se prenuncia é que Guaíra está prestes a ver de volta ao trono um prefeito que “vai causar” com o coração. Até 2020 José Eduardo precisava. Com sua histórica reeleição, ele adquiriu, junto, o direito de querer. “Antes eu precisava; agora eu quero”. Sem precisar de mais uma mandato e já tendo conquistado tudo o que um guairense poderia desejar na esfera pública local, José Eduardo vai governar do jeito que bem entender. Aos navegantes que ainda “precisam” diante de um prefeito que agora “quer”, vale o conselho de um jornalista que continua invicto e também não mais precisa: não subestimem um homem que escolheu ser feliz.

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