CRÔNICAS DE ONDE EU VIM: UM GIRO PELA MALANDRAGEM DE QUEM SERVE A DOIS SENHORES E PELAS VERTIGENS DE BAIXA ALTITUDE DO GOVERNO EDVALDO
Da disputa silenciosa entre duas primeiras-damas aos acenos do interino em busca de apoio para uma eventual segunda eleição, a fogueira das vaidades arde atrás das cortinas enquanto no palco permanece o suspense sobre a volta do eleito
Edvaldo costura pontes que passariam até pela nomeação do “opositor” Denir Barulho para um cargo no governo. Como se José Eduardo não estivesse sabendo de tudo
Reprodução da pintura “O Mito de Ícaro”. Mesmo avisado por Dédalo, Ícaro achou que poderia voar perto do Sol com suas asas de cera. A imprudência de sua ambição custou caro. Com as asas derretidas pelo Sol cujo brilho o atraía, Ícaro despencou no Mar Egeu, onde morreu afogado. Vertigens de baixa altitude costumam ser fatais
Na enorme maioria das vezes, o destino de um município com dois prefeitos é o de uma cidade com enorme confusão. Os golpes de novembro e dezembro do ano passado pariram um monstro institucional. Da disputa silenciosa entre duas primeiras-damas às acrobacias do interino que vigia o peixe no aquário enquanto não desgruda o olho do gato no tapete, a cena política guairense acontece, de verdade, atrás das cortinas. A fumaça que vem dos camarins entrega o tamanho da fogueira das vaidades que arde nas coxias. Como sexta-feira é o pior dos dias para quem acha que eu não sei o que vocês fizeram no verão passado, aí vão os fatos.
A MALANDRAGEM DE SERVIR A DOIS SENHORES
O mestre Nelson Rodrigues ensinava que dinheiro compra tudo, “até amor verdadeiro”. Pois a situação dos cargos de confiança originalmente nomeados por José Eduardo e mantidos por Edvaldo é um clássico da malandragem de servir a dois senhores. Enquanto aguardam a definição dos tribunais, assessores de primeira escalão e de diferentes setores equilibram-se entre o discurso de “esperar a volta do Zé” e a fala mansa do “Edvaldo está indo bem”. Acham mesmo que é possível passar incólumes pelo escrutínio silencioso do prefeito afastado enquanto mantêm o emprego em dia com o prefeito interino. A encenação tem poucas chances de resistir aos fatos; e estes (os fatos) parecem caminhar, apressadamente, para a constatação de que Edvaldo está cada vez menos disposto a largar o osso. É muito “amor” na causa.
UM CARGO PARA DENIR E AS ASAS DE ÍCARO
A coluna revelou esta semana que Edvaldo Morais, o prefeito interino, teve “conversas produtivas” (mas pode me chamar de "Canto do Cisne") com Badia Junqueira e Junão, dois dos próceres da malfadada candidatura de Bia Junqueira, a “Dona Penúltima” das eleições municipais. Os dois loteadores foram lembrados pelo “Varejão”, com o perdão do trocadilho, que podem continuar no varejo dos próprios loteamentos, já que seus negócios não foram alcançados pela medida “moralizadora” do governo interino, que suspendeu novas concessões imobiliárias sem mexer no bolso da esposa de Orlando e do marido de Marta. Depois de afagar dois adversários fidagais de José Eduardo com bondades institucionais, o interino Edvaldo avançou um pouco mais em seu “plano infalível” de neutralizar a oposição. Dizem as boas línguas já que as más morreram de véspera, que Morais teria acenado feito um atendente de pista de aeroporto (aqueles que ficam com duas “raquetes” controlando o taxiamento das aeronaves) para Denir Barulho. Ex-vice prefeito e um dos coordenadores da fracassada campanha dos Armani no ano passado, o empresário e vereador de oposição é conhecido por ser tão volátil quanto um vidro de éter. Prato cheio para as vertigens de baixa altitude de um prefeito interino que vai precisar de apoio no parlamento caso o “destino” lhe garanta a continuidade no cargo. Edvaldo teria dito a Denir que ele pode ocupar um cargo no governo. O deslocamento do “Barulho” para o executivo amansaria em definitivo quem já está manso e abriria vaga na Câmara para o retorno de Moacir Gregório, outro oposicionista encarniçado que sentiu-se injustiçado pela “ingratidão” da proporcionalidade ficando de fora da nova legislatura mesmo com uma boa votação. O movimento poderia fazer com que Denir e Gregório declarassem “amor verdadeiro” (bem ao estilo rodriguiano) a Edvaldo. Como se vê, as asas do Varejão têm a envergadura do assanhamento. Resta saber se Edvaldo conhece o mito de Ícaro, que achou que poderia voar perto do Sol com asas de cera, mesmo advertido por Dédalo.
NA GUERRA SILENCIOSA ENTRE AS PRIMEIRAS-DAMAS, O CIDADANIA DE ALUIZIO AGUETONI, JORGINHO UATANABI E RENATO MOREIRA MOSTRA OS DENTES
A exitosa campanha “Juntos contra a Fome”, liderada entre outros nomes respeitados da cidade como o do empresário Aluzio Aguetoni, também tem sua versão de bastidores. E ela é deliciosa para quem quer saber o que se passa atrás de belas cortinas. Bem-sucedida, a campanha arrecadou centenas de cestas básicas para serem distribuídas à população de baixa renda atingida em cheio pela crise da pandemia. Membro do Cidadania e amigo de dentro da casa de José Eduardo, Aguetoni convidou a primeira-dama Elaine Olivério para fazer as entregas a partir da imensa rede de assistidos que a esposa de José Eduardo, de forma competente, montou a partir de elogiado trabalho que desenvolveu à frente do Fundo Social de Solidariedade. Elaine, inclusive, utilizou o bagageiro de sua Hilux Sw4 branca para fazer parte das entregas. Dizem os entendidos – e eles são poucos, como óasis nos desertos da ignorância que conhecemos – que o convite à Elaine foi uma forma do Cidadania, que também tem entre seus quadros o vice Renato Moreira, um dos presos na Operação do Gaeco em dezembro ; mostrar os dentes para Edvaldo Morais. Explica-se. Mesmo com o afastamento de José Eduardo, Elaine não queria que tudo que fez à frente do FSS tomasse um rumo diferente daquele que ela planejou para o segundo mandato do marido. Especula-se que seu desejo era continuar no comando do Fundo, mesmo com José Eduardo temporariamente afastado. Edvaldo, como interino, viu-se então diante de um dilema shakespeariano. Permitir que Elaine continuasse ou abrir caminho para que sua esposa, a primeira-dama "interina"Vitória Morais, pudesse presidir a organização? A solução, para evitar que José Eduardo e Edvaldo dormissem no sofá, foi uma daquelas jabuticabas amargas, que só existem na mente criativa de homens públicos e maridos temerosos. “Nem Elaine, nem Vitória”. Quem ficou temporariamente com a coordenação do Fundo foi uma indicada de Elaine, Ana Amélia. Sobre o Fundo, com o perdão do trocadilho mais uma vez, não é preciso conhecer muito a fundo a complexidade da vida a dois para entender que a emenda saiu pior que o soneto, com duas primeiras-damas insatisfeitas e duas esposas irritadas. Daí o convite para Elaine, mesmo estando fora do Fundo, fazer a entrega das cestas. Foi uma forma do Cidadania de Aluizio, Jorginho Uatanbi e Renato Moreira mandar um recado para Edvaldo. Ou dois. Ou qualquer um dos dois. Pode escolher. Um: “Edvaldo, você está no poder mas não se esqueça de que ele é nosso”. Dois e o mais perverso: “Edvaldo, se o José Eduardo ficar pelo caminho, não se esqueça que sozinho você não governa e que, para todos os efeitos, temos o Jorginho Uatabani ou o próprio Aluizio para concorrer com você”. Sim caro leitor, política não é uma arena para românticos. Em política não existe vácuo. Nem almoço grátis. Um olho no peixe e outro no gato.

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