Enxergando sua interinidade como algo “predestinado”, vereador tucano pisa fundo para fazer história no menor tempo possível
“Sou um homem de grupo e estou pronto para o que der e vier”, afirmou Morais à coluna; enquanto prepara o pagamento de R$ 3,3 milhões de licenças-prêmio ao funcionalismo, cria a Licitação “Big Brother” e corre para dotar a Santa Casa com a primeira Unidade de Terapia Intensiva da história do hospital
Pode-se dizer muita coisa de Edvaldo Morais, menos que sua ansiedade não funcione como um dínamo capaz de mudar cenários. O prefeito interino de Guaíra (SP), que estreou na vida pública no ano 2000, primeiro como vereador e depois vice-prefeito (no segundo mandato de José Carlos Augusto) para então voltar ao parlamento; acredita, de fato, que sua atual posição tem algo de “predestinado”. “Depois de exatos vinte anos, quando eu acreditava que iria encerrar minha história pública como vereador, vem este desafio enorme....só pode ter sido Deus que colocou em minhas mãos esta missão”, disse ontem Edvaldo durante entrevista por telefone à coluna. Em meio à indefinição sobre o retorno do prefeito reeleito José Eduardo Coscrato Lelis, o interino mantém um discurso cauteloso sobre o desejo de continuar no cargo mas deixa escapar o que vai no seu “ethos” político: “sou um homem de grupo e estou pronto para o que der e vier”. Duas perguntas adiante e o “Varejão” não resiste e entrega uma aspiração que não deixa de ser legítima: “se eu ficar mais três meses no cargo ninguém me segura”. Edvaldo sabe que seu tempo é curto e pisa fundo para fazer história no menor tempo possível. "Vai que tudo dê errado para José Eduardo". O interino acredita que se fizer muito em pouco tempo estará naturalmente cacifado como “candidato natural” em uma muito improvável nova eleição. Pelo sim pelo não, Edvaldo está marcando território e não tem como negar isso. Acenou com um saco de bondades para o funcionalismo público. Vai destravar a montanha de dinheiro em licenças-prêmio que todos os prefeitos anteriores – inclusive o próprio José Eduardo – seguraram como medida de contenção. Como as prefeituras estão impedidas de conceder aumento ao funcionalismo por conta da crise pandêmica, Edvaldo vai pagar R$ 3,3 milhões em licenças-prêmio acumuladas e até então não recebidas pelos servidores municipais. A medida vai alcançar 474 funcionários públicos . Mesmo parcelando em até três vezes o repasse, Edvaldo espera ser lembrado pelos servidores como o prefeito que colocou boladas individuais, conforme o caso, de até R$ 30 mil em suas contas. Ato contínuo, Edvaldo, o “Breve”, é preciso reconhecer, foi criativo para conquistar a confiança do funcionalismo ao criar a “Licitação Big Brother”. Por sua determinação, a partir de agora, toda concorrência pública presencial aberta pelo governo guairense será gravada em vídeo e aúdio para evitar, segundo o interino, “qualquer possibilidade de mão boba”. A decisão “orwelliana” de Edvaldo foi tão criativa quanto necessária. A infame Operação do GAECO no início do dezembro, que impôs uma cana de 10 dias a servidores do Setor de Compras, deixou o funcionalismo municipal em estado permanente de stress pós-traumático. O mantra “quem tem esfíncter tem medo” passou a ditar a conduta dos funcionários da prefeitura e todo mundo tratou de encomendar no Mercado Livre o Cinto de Castidade Anal Tabajara. “Eu não vou colocar o meu na reta....você vai?”...foi a pergunta que os servidores mais fizeram entre si desde que o GAECO fez o seu showzinho sobre como se apavora uma cidade de incautos com um desfile de fuzis e sirenes. Edvaldo não tinha lá muita saída. Ou afagava os servidores com grana e os protegia com seu Big Brother ou nada feito. Só assim está conseguindo destravar os labirintos burocráticos da administração pública no tempo que deseja para entrar, a jato, na história. Júlio Verne, no clássico “Le tour du monde en quatre-vingts jour”, colocou o protogonista Phileas Fogg para dar a volta ao mundo em 80 dias. Edvaldo Morais é o Phileas Fogg de si mesmo. Quer dar a volta em José Eduardo em 90 dias. Apesar disso, durante nossa conversa, jamais deixou de frisar, é bom que aqui se diga, que José Eduardo é “seu irmão”. “O José Eduardo está e sempre estará em meu coração”. Declarações de amor à parte, o “Varejão” não perde tempo porque sabe que não o tem . Quer porque quer instalar, “em vinte dias”, uma inédita e histórica Unidade de Terapia Intensiva com 10 leitos na Santa Casa de Guaíra. “Não estou encontrando equipamento para comprar mas vou alugar”, diz Edvaldo sobre o aparato necessário para montar uma UTI que , de fato, seria a cereja do bolo de sua brevidade como prefeito interino. Ocorre que Edvaldo ainda não sabe como vai dotar a UTI das equipes médicas necessárias. Equipamentos sem gente são apenas equipamentos. Entretanto, é preciso reconhecer que para que o hospital guairense tenha uma UTI é preciso começar por alguma parte ou de algum jeito e isso Edvaldo está fazendo.Olhos e ouvidos de José Eduardo
Ainda que afastado e cumprindo rigorosamente todas as determinações da decisão arbitrária que o arrancou das funções públicas, José Eduardo parece ser onipresente. Já teria chegado aos ouvidos do prefeito reeeleito por meio dos olhos e ouvidos que ele tem na cidade, “fora do corpo”, a informação de que após bloquear a concessão de novos loteamentos já como mandatário interino, Edvaldo teria se encontrado (ou conversado) discretamente com dois loteadores. A saber, Dona Badia Junqueira, ex-primeira-dama viúva do prefeito Orlando Garcia Junqueira; e o empresário Antonio Manoel da Silva Júnior, o Junão. Badia e Junão, como bem sabem até mesmo as garças que pescam seus bagres no Lago Maracá ao entardecer; foram escudeiros em 2020, da campanha de Bia Junqueira (sobrinha de Badia), a penúltima colocada no pleito que, inconformada com a derrota, promove uma ofensiva de Lawfare contra José Eduardo. Nos “encontros” com os dois, Edvaldo teria dito que a suspensão das concessões acabaria por ajudá-los, já que somente Badia e Junão ainda possuem lotes disponíveis e autorizados para venda. O bloqueio de Morais, com curiosa conveniência, não foi retroativo. A “aproximação” com os loteadores “Junqueiristas” seria um sinal, dizem os pequenos demônios que falam baixinho a um dos ouvidos de José Eduardo (a outra orelha está esperando as explicações do interino que não pode fazê-las, olha o gongo, por decisão judicial) , das manobras de Edvaldo para angariar apoio improvável (mas possível) enquanto sonha em ser candidato em uma segunda eleição. Na terra em que sobram prefeitos, também não faltam coldres e mãos repousando sobre os próprios.
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